002 - Síndrome da Escolhida, eu?!
Quando você não é A Escolhida na festa da vida - sobre a necessidade de validação.
Agora a pouco, li aqui sobre uma moça que foi a uma festa e saiu de lá se perguntando o que havia de errado com ela por não ter sido “escolhida” por nenhum homem.
O título do texto era algo sobre a necessidade feminina de validação - muitas vezes por um homem - para se sentir bonita e algo no texto dela, logo no início, me lembrou de uma grande sacada que tive ontem em minha sessão de terapia.
Eu nunca fui A Escolhida nas festas,
então essa dor eu já conheço bem e nem me incomoda tanto hoje dia. Mas, recentemente, experimentei uma nova forma de não ser a escolhida.
Ocorre que, há pouco mais de oito semanas, passei por um… término? Dá pra dizer que terminamos com um ficante? (rs) Bem, senti como um término oficial, então vamos considerar como um, ok?!
A questão é que não sou dada à relações mais casuais e nunca havia passado pelo evento não ser assumida por ficante. Pois é. Tardei, mas não falhei! (risinhos nervosos)
Como para tudo há, nesta vida, uma primeira vez, lá estava eu tentando superar o fim de um quase algo, que foi maravilhoso na maior do tempo em que durou.
Por um tempo, mesmo depois de um encerramento inevitável, fiquei meio que esperando que ele percebesse o meu valor e que reconhecesse isso. Pois tal reconhecimento, como vocês podem imaginar, nunca veio, rs.
Acho que todas nós, em algum momento da vida, já passamos pela experiência de sentir que fizemos tudo certo, tanto quanto podíamos, e que, no fim das contas, não éramos valorizadas em um relacionamento, não é?
Depois de algumas pinceladas sobre isso nas sessões de terapia, lembretes auto sabotadores constantes dos momentos bons da relação, descobrir que a memória seletiva era meu maior inimigo e me forçar lembretes de auto defesa sobre os motivos que levaram ao fim, vez ou outra ainda me pegava pensando se o tal fim era de fato inevitável. Assim fui seguindo, até o assunto cair no esquecimento e minha terapeuta começar a acreditar que eu já havia digerido tudo o quanto podia sobre o ex-quase-algo.
Até que, me despedindo da psicóloga, ali aos 45 do segundo tempo e já quase invadindo o tempo do próximo paciente, me cai uma ficha:
Será que esse tempo todo eu senti falta mesmo dele?
Eu queria tentar resolver as coisas por quem ele era, ou porque eu precisava que ele me devolvesse o que “tirou” de mim - o meu senso de valor.
Então, percebi que por trás da cortina de saudade, provavelmente havia um palco de validação esperando que o monólogo do “você é incrível e agora eu reconheço isso” entrasse em ação.
Como eu não havia pensado nisso antes?
“Mesmo depois de ler Valeska Zanello, não estou imune às ciladas da validação e etiquetação masculina”, pensei. Quem diria… Me desculpe, Valeska, se falhei com você.
A verdade é que, depois de semanas e de muito refletir sobre o porquê daquela sensação de que ainda havia algo a ser resolvido, eu só precisava que algo me fosse devolvido - meu (senso de) valor. Que ninguém tirou de mim, mas que eu sentia que me deviam.
Às vezes, nos pegamos presas a alguém, ou a alguma situação em que nos sentimos desvalorizadas porque sentimos que não merecíamos isso e esperamos uma reparação histórica. Só que muitas vezes esse acolher e evidenciar o quanto a gente é boa o suficiente para o que é nosso tem que vir da gente. Especialmente na vida adulta.
É um pouco duro, mas na maior parte do tempo teremos que ser como aquele meme da galinha motivando o próprio reflexo no espelho. OU um pouco Nazaré no espelho, você que escolhe! rs
Talvez, esse texto faça por você o mesmo que ler Valeska Zanello fez por mim - oferecer o conhecimento de que essa espera por validação está intimamente enraizada em nós. Mas, talvez, você só acesse essa consciência e esse despertar na prática quando perceber, assim como eu, de quais sentimentos e sensações essa necessidade de validação se disfarça em sua vida. Do que ela se veste?
Para mim, era fácil compreender o assunto em teoria, mas a libertação da tal “saudade” que eu achei que sentia só veio quando identifiquei, entendi e nomeei esse sentimento com a definição correta: necessidade de validação. E essa percepção me deu a permissão que eu (nem) precisava para seguir.
Esperar que um outro, seja lá em qual tipo de relacionamento for, reconheça nosso valor, nos escolha, repare essas “injustiças” relacionais, diga que as nossas emoções são válidas, que somos bonitas e boas o suficiente para sermos escolhidas e amadas, etc, só nos afasta de quem realmente somos.
Começamos a pensar sobre “o que faltou em mim?”, “o que eu poderia fazer diferente na próxima?”, “como eu deveria ser/me parecer/pensar para ser escolhida e amada?”. E aqui vai uma frase que eu disse à minha mãe certa vez, quando recebi mais um desses conselhos do tipo “você tem que ficar esperta e fazer X coisa se quiser que fulano se apaixone”:
Se preciso fingir ou de uma estratégia para ser amada, então não é a mim que o outro ama.
-RAYBOLT, Maiara.
E nós até queremos ser escolhidas, mas queremos ser aceitas, amadas, amparadas e respeitadas por quem somos, em nossa essência. Não é mesmo?!
Não é o outro que mede e decide nosso valor. E esse valor também não está em nossa aparência, ou no quanto de tempo que alguém decide permanecer ao nosso lado. E por muito tempo eu fiquei me perguntando - inclusive na terapia - onde estava o meu valor.
E pode ser que algum dia eu pense diferente, mas, HOJE, eu diria que ele está no tanto que eu adoraria encontrar alguém como eu para me relacionar.
E deixo essa perspectiva para você, mulher, menina ou moça, que também já se sentiu mal por não ter sido escolhida numa festa, ou não ter sido assumida pelo ficante de meses, ou whatever (rs): Seu valor não está em quem não escolheu ficar, mas no tanto que você se admira (sem perceber, muitas vezes) a ponto de desejar conhecer alguém que se encaixe/seja exatamente como você!
E hoje de manhã, ahh, hoje de manhã…
Já acordei outra: mais leve, um pouco mais segura e bem menos nostálgica. Porque eu peguei de volta aquilo que ninguém tira de mim.
🤍